ODS: Panorama Global e desafios para Angola

Em 2015, os 193 Estados-membros das Nações Unidas adoptaram a Agenda 2030, um plano de acção ambicioso para as pessoas, o planeta e a prosperidade, estabelecendo 17 Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) a serem alcançados até 2030. Dez anos após essa adoção histórica, o Relatório de Desenvolvimento Sustentável 2025, produzido pela rede UN Sustainable Development Solutions Network (SDSN), uma iniciativa criada em 2012 sob os auspícios do Secretário-Geral das Nações Unidas por meio do seu SDG Transformation Center. O relatório foi elaborado por um grupo de especialistas independentes, liderados por Jeffrey Sachs (presidente da Sustainable Development Solutions Network - SDSN) e Guillaume Lafortune (vice-presidente e coordenador do SDG Index).

O relatório apresenta uma análise detalhada do progresso global e regional, revelando tanto avanços quanto desafios persistentes. Este artigo oferece uma visão geral dos ODS, apresentando dados atualizados sobre o progresso global e uma análise comparativa com a situação de Angola, destacando oportunidades para estudantes e empresários contribuírem para o desenvolvimento sustentável.

Onde Estamos Globalmente? Visão Geral dos ODS

O Relatório de Desenvolvimento Sustentável 2025 revela um cenário preocupante: globalmente, nenhum dos 17 ODS está no caminho certo para ser alcançado até 2030. Apenas 17% das metas estão em vias de serem cumpridas mundialmente, o que demonstra a urgência de acelerar acções e investimentos. Entre os dados mais relevantes do relatório:

• Liderança europeia: Países europeus continuam dominando o topo do Índice ODS, com a Finlândia em primeiro lugar. No entanto, mesmo estes países enfrentam desafios significativos em pelo menos dois objectivos, especialmente aqueles relacionados ao clima e biodiversidade.

• Avanços regionais: A Ásia Oriental e Meridional apresentou o progresso mais rápido nos ODS desde 2015, impulsionada principalmente por avanços nas metas socioeconômicas.

• Países em destaque: Benin (África Subsaariana), Nepal (Ásia Oriental e Meridional), Peru (América Latina e Caribe), Emirados Árabes Unidos (Oriente Médio e Norte da África), Uzbequistão (Europa Oriental e Ásia Central), Costa Rica (OCDE) e Arábia Saudita (G20) progrediram mais rapidamente que seus pares regionais.

• Avanços em serviços básicos: Apesar dos desafios, houve progresso significativo em metas relacionadas ao acesso a serviços básicos e infraestrutura, incluindo uso de banda larga móvel (ODS 9), acesso à eletricidade (ODS 7), uso da internet (ODS 9), taxa de mortalidade infantil (ODS 3) e mortalidade neonatal (ODS 3).

Principais Obstáculos ao Progresso

O relatório identifica vários obstáculos críticos ao progresso dos ODS:

1. Falta de espaço fiscal: Aproximadamente metade da população mundial vive em países que não conseguem investir adequadamente em desenvolvimento sustentável devido a encargos da dívida e falta de acesso a capital de longo prazo a custos acessíveis.

2. Conflitos e vulnerabilidades estruturais: Conflitos armados, deslocamentos humanos, desastres climáticos e doenças epidêmicas impedem o progresso em muitas regiões.

3. Arquitectura financeira global deficiente: O sistema financeiro internacional actual favorece países ricos em detrimento de economias emergentes e em desenvolvimento, apesar destas oferecerem maior potencial de crescimento e retorno sobre investimentos.

4. Subfinanciamento de bens públicos globais: Recursos para protecção ambiental, saúde global e outros bens públicos globais são insuficientes.
   
   Angola no Contexto dos ODS

   Angola, como muitos países em desenvolvimento, enfrenta desafios significativos na implementação dos ODS. O Relatório de Desenvolvimento Sustentável 2025 posiciona Angola em 155º lugar no Índice ODS global, com uma pontuação de 52,8 pontos (em uma escala de 0 a 100).

   Progresso e Desafios

   Angola apresenta um desempenho misto nos diferentes objectivos:

   Áreas de progresso: O país tem mostrado avanços em alguns indicadores, particularmente relacionados ao ODS 7 (Energia Acessível e Limpa) e ODS 3 (Saúde e Bem-Estar), com melhorias no acesso à eletricidade e redução da mortalidade infantil.

   Desafios persistentes: Angola enfrenta obstáculos significativos em objectivos relacionados à redução da pobreza (ODS 1), fome zero (ODS 2), educação de qualidade (ODS 4), igualdade de gênero (ODS 5) e infraestrutura (ODS 9).

   Comparação regional: Dentro da África Subsaariana, Angola apresenta um desempenho médio, com progresso mais lento que países como Benin, que se destacou como líder regional em avanços nos ODS.

   Factores Limitantes para Angola

   Os principais factores que limitam o progresso de Angola nos ODS incluem:

   Dependência econômica do petróleo: A economia angolana ainda é fortemente dependente da exportação de petróleo, o que a torna vulnerável às flutuações do mercado internacional e dificulta investimentos sustentáveis de longo prazo.

   Espaço fiscal limitado: Como muitos países em desenvolvimento, Angola enfrenta restrições orçamentárias que limitam investimentos em áreas críticas como saúde, educação e infraestrutura sustentável.

   Desafios de governança: Questões relacionadas à transparência, eficiência administrativa e coordenação intersectorial afectam a implementação eficaz das políticas de desenvolvimento sustentável.

   Vulnerabilidade climática: Angola está exposta a riscos climáticos como secas e inundações, que afectam particularmente a segurança alimentar e os meios de subsistência rurais.

   Apesar dos desafios, existem oportunidades significativas para estudantes e empresários angolanos contribuírem para o avanço dos ODS:

   Para Estudantes:

   Desenvolvimento de competências alinhadas aos ODS: Buscar formação em áreas como energias renováveis, agricultura sustentável, saúde pública, tecnologia da informação e gestão ambiental, que são fundamentais para o desenvolvimento sustentável.

   Pesquisa aplicada: Desenvolver pesquisas focadas em soluções locais para desafios de desenvolvimento sustentável em Angola, como adaptação às mudanças climáticas, gestão de recursos hídricos e sistemas alimentares resilientes.

   Empreendedorismo social: Criar iniciativas e startups que abordem desafios sociais e ambientais específicos de Angola, combinando impacto positivo com sustentabilidade financeira.

   Engajamento comunitário: Participar ou liderar projectos comunitários alinhados aos ODS, promovendo conscientização e ações práticas em nível local.

   Para Empresários:

   Modelos de negócios sustentáveis: Desenvolver e adaptar modelos de negócios que integrem princípios de sustentabilidade, criando valor compartilhado para a empresa e a sociedade.

   Cadeias de valor responsáveis: Implementar práticas sustentáveis em toda a cadeia de valor, desde o fornecimento de matérias-primas até o descarte de produtos, reduzindo impactos ambientais e promovendo condições de trabalho dignas.

   Parcerias público-privadas: Colaborar com o governo e organizações da sociedade civil em iniciativas que promovam o desenvolvimento sustentável, aproveitando recursos e competências complementares.

   Investimento de impacto: Direcionar investimentos para sectores e projectos que contribuam directamente para os ODS, como energias renováveis, agricultura sustentável, saúde e educação.

   Inovação tecnológica: Adotar e desenvolver tecnologias que aumentem a eficiência no uso de recursos, reduzam emissões e melhorem o acesso a serviços essenciais.
   
   Dez anos após a adopção dos ODS, o mundo enfrenta um cenário desafiador, com a maioria das metas fora do caminho para serem alcançadas até 2030. Angola, como muitos países em desenvolvimento, enfrenta obstáculos significativos, mas também possui oportunidades importantes para avançar em direção ao desenvolvimento sustentável.

   O progresso nos ODS requer uma abordagem integrada, envolvendo governos, sector privado, academia e sociedade civil. Estudantes e empresários têm um papel fundamental nesse processo, seja através da inovação, do empreendedorismo ou da pesquisa aplicada.

   A Psicologia Verde, como organização comprometida com a sustentabilidade, reconhece a importância de disseminar conhecimento sobre os ODS e inspirar acções concretas. Acreditamos que, apesar dos desafios, é possível construir um futuro mais sustentável e próspero para Angola e para o mundo, desde que haja compromisso, colaboração e investimentos adequados.

   O momento de agir é agora. Cada passo em direção aos ODS, por menor que seja, contribui para a construção de um mundo mais justo, próspero e sustentável para as gerações actuais e futuras.